E mais um encontro se deu, e ainda bem, estávamos lá. Do dia
12 ao dia 17 de julho, aconteceu em Ribeirão Preto o 1° encontro de artes
convergentes.
Chegamos, Felipe Braccialli e Felipe Casati, preparados para
muito trabalho e descobertas sobre a nossa arte e a dos outros, e como tudo
isso se transformaria em outra arte então pouco tempo, mas qual não foi a nossa
surpresa em nos depararmos com a arte do encontro, a arte de dividir momentos e
experiências.
Nossa rotina era, pelo menos para nós, como um acampamento
“militar” artístico. Acordar cedo, trabalhar muito, ter boa alimentação, focar
nas atividades sem descanso, e dormir cedo, porém, este último quesito não
cumprimos. Com certeza as oficinas de palhaçaria com o mestre Biribinha e de
performance com a artista Clara Lee Lundberg nos desabrocharam e nos muniram de
técnicas e sensibilidade para utiliza-las, mas o encontro, o grande encontro se
dava nas refeições, se dava nos dormitórios, se dava na fila do banheiro, se
dava na espera para assistir aos espetáculos, se dava nas madrugadas ganhas
cheias de conversas nas mesas de bar. Era ali que realmente trocávamos nossas
experiências, nossos sufocos, nossos prazeres, nossa forma de viver, de falar e
de sentir a arte, e era isso, essa relação, que traduzia nosso fazer teatral em
forma de presente que, inspirados pelo nosso mestre Biribinhas, dávamos uns
para os outros, sem esperar e nem pedir nada em troca.
Pelas manhãs, tínhamos o prazer do encontro com uma de nossas
grandes referências no universo circense, Teófanes Silveira, vulgo Palhaço
Biribinha, e a emoção de vê-lo doar-se fisicamente e doar aquilo que sabe, e
ouvi-lo dizer, no auge de sua humildade, “Vocês estão aprendendo com Um, eu
estou aprendendo com dezesseis. Quer dizer, a vantagem está comigo”.
Despertamos andares, relações, singelezas, pancadas e fizemos brincar nosso
lado grotesco.
O trabalho perpassou pelas reprises clássicas, piadas, cena
muda, improviso, confecção de porróte e configuramos como nosso hino uma chula
que até hoje ressoa em nossos ouvidos. Madona Mariquinha se eu pedir você me
dá...
Então, que felicidade, fomos rebatizados Cuchão e Rilim em
pleno espetáculo do amado Biribinha, nós e mais tantos outros palhaços, que nos
cativaram e agora nos carregamos uns aos outros como irmãos de circo. Um nariz
que se estoura na queda, uma homenagem ao mestre e muito chantilly escorrendo
em nossas caras.
Já nas tardes, encontramos com Clara Lee Lundberg, uma
artista que nos encantou pelo seu fascínio com a nossa cultura, sua delicadeza
e o seu modo de conduzir a oficina nos levando a crer o quão importante são os
caminhos antes de se almejar um resultado. Ela conseguiu convergir, em torno de
quarenta artistas (de circo, teatro e dança), se utilizando de uma palavra tão
cara, tão rara, hoje em dia: Empatia.
Revivemos os tão conhecidos, por nós, Viewpoints e nos
experienciamos em novas técnicas da improvisação, que nos permitiam criar,
fechando mais os olhos e abrindo o coração; acreditando nas possibilidades de
um “corpo que sabe”. Via-se todos esses mesmo quarenta artistas disponíveis uns
para os outros, um trabalho de relação conquistado, quase que imediato, pela
artista.
A investigação das relações interpessoais dentro de sala foi
testada na rua através de uma performance coletiva com ações individuais desses
mesmos artistas/oficinandos. O objetivo era deixar se afetar e afetar os
outros, investigar qual a relação, ou as relações, que se criam entre um
performer não declarado com sua “plateia”; o resultado foi diverso,
controverso, construtor e destruidor. Havia excesso de carinho e a escassez do
mesmo, as vezes na mesma relação.
Para fechar a semana aconteceu o cabaré multilinguagens, uma
tentativa, talvez um pouco frustrada, de juntar números e cenas das três
modalidades do encontro (teatro, dança e circo), tendo em vista que a dança e o
teatro não foram tão adeptos deste cabaré. A possibilidade de troca em cena com
os palhaços que cruzamos afetividades durantes esses dias, nos deu a liberdade
de jogar cenicamente, ou melhor, brincar mesmo com as nossas relações e a
relação com o público. Nos arriscamos com reprises e entradas clássicas do
circo que não nos eram comuns, encontrando ali novas possibilidades artísticas.
Voltamos à nossa cidade com a bagagem recheada de
experiências, o coração carregado de novos amigos e no corpo a vontade do
reencontro com cada um que nos tocou.
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