quinta-feira, 21 de julho de 2016

1° Encontro de Artes Convergentes (Ribeirão Preto)


E mais um encontro se deu, e ainda bem, estávamos lá. Do dia 12 ao dia 17 de julho, aconteceu em Ribeirão Preto o 1° encontro de artes convergentes.
Chegamos, Felipe Braccialli e Felipe Casati, preparados para muito trabalho e descobertas sobre a nossa arte e a dos outros, e como tudo isso se transformaria em outra arte então pouco tempo, mas qual não foi a nossa surpresa em nos depararmos com a arte do encontro, a arte de dividir momentos e experiências.
Nossa rotina era, pelo menos para nós, como um acampamento “militar” artístico. Acordar cedo, trabalhar muito, ter boa alimentação, focar nas atividades sem descanso, e dormir cedo, porém, este último quesito não cumprimos. Com certeza as oficinas de palhaçaria com o mestre Biribinha e de performance com a artista Clara Lee Lundberg nos desabrocharam e nos muniram de técnicas e sensibilidade para utiliza-las, mas o encontro, o grande encontro se dava nas refeições, se dava nos dormitórios, se dava na fila do banheiro, se dava na espera para assistir aos espetáculos, se dava nas madrugadas ganhas cheias de conversas nas mesas de bar. Era ali que realmente trocávamos nossas experiências, nossos sufocos, nossos prazeres, nossa forma de viver, de falar e de sentir a arte, e era isso, essa relação, que traduzia nosso fazer teatral em forma de presente que, inspirados pelo nosso mestre Biribinhas, dávamos uns para os outros, sem esperar e nem pedir nada em troca.

Pelas manhãs, tínhamos o prazer do encontro com uma de nossas grandes referências no universo circense, Teófanes Silveira, vulgo Palhaço Biribinha, e a emoção de vê-lo doar-se fisicamente e doar aquilo que sabe, e ouvi-lo dizer, no auge de sua humildade, “Vocês estão aprendendo com Um, eu estou aprendendo com dezesseis. Quer dizer, a vantagem está comigo”. Despertamos andares, relações, singelezas, pancadas e fizemos brincar nosso lado grotesco.
O trabalho perpassou pelas reprises clássicas, piadas, cena muda, improviso, confecção de porróte e configuramos como nosso hino uma chula que até hoje ressoa em nossos ouvidos. Madona Mariquinha se eu pedir você me dá...
Então, que felicidade, fomos rebatizados Cuchão e Rilim em pleno espetáculo do amado Biribinha, nós e mais tantos outros palhaços, que nos cativaram e agora nos carregamos uns aos outros como irmãos de circo. Um nariz que se estoura na queda, uma homenagem ao mestre e muito chantilly escorrendo em nossas caras.
Já nas tardes, encontramos com Clara Lee Lundberg, uma artista que nos encantou pelo seu fascínio com a nossa cultura, sua delicadeza e o seu modo de conduzir a oficina nos levando a crer o quão importante são os caminhos antes de se almejar um resultado. Ela conseguiu convergir, em torno de quarenta artistas (de circo, teatro e dança), se utilizando de uma palavra tão cara, tão rara, hoje em dia: Empatia.


Revivemos os tão conhecidos, por nós, Viewpoints e nos experienciamos em novas técnicas da improvisação, que nos permitiam criar, fechando mais os olhos e abrindo o coração; acreditando nas possibilidades de um “corpo que sabe”. Via-se todos esses mesmo quarenta artistas disponíveis uns para os outros, um trabalho de relação conquistado, quase que imediato, pela artista.


A investigação das relações interpessoais dentro de sala foi testada na rua através de uma performance coletiva com ações individuais desses mesmos artistas/oficinandos. O objetivo era deixar se afetar e afetar os outros, investigar qual a relação, ou as relações, que se criam entre um performer não declarado com sua “plateia”; o resultado foi diverso, controverso, construtor e destruidor. Havia excesso de carinho e a escassez do mesmo, as vezes na mesma relação.


Para fechar a semana aconteceu o cabaré multilinguagens, uma tentativa, talvez um pouco frustrada, de juntar números e cenas das três modalidades do encontro (teatro, dança e circo), tendo em vista que a dança e o teatro não foram tão adeptos deste cabaré. A possibilidade de troca em cena com os palhaços que cruzamos afetividades durantes esses dias, nos deu a liberdade de jogar cenicamente, ou melhor, brincar mesmo com as nossas relações e a relação com o público. Nos arriscamos com reprises e entradas clássicas do circo que não nos eram comuns, encontrando ali novas possibilidades artísticas.

Voltamos à nossa cidade com a bagagem recheada de experiências, o coração carregado de novos amigos e no corpo a vontade do reencontro com cada um que nos tocou.

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