Primeiro Registro: Felipe Casati
(Cuchão)
EVA: QUANDO SE CONHECE UMA PESSOA
BOA.
Se o palhaço é descobrir-se, desvelar-se, abrir-se e tudo mais, foi o que
a Eva me proporcionou; ela chegou tão desarmada, simpática, estudada, tão
aberta, mas tão aberta, que dava pra ver os azulejos coloridos de sua cozinha
em Portugal. Era tão bom olhar em seus olhos transparentes; eles me confortavam
de uma nuvem negra que pairava em minha vida e que agora se dissipa; aqueles
mesmos olhos que ficaram maravilhados ao ver um tucano.
Três dias de exercícios, três dias de encontros, três dias tirando a
terra de cima do meu peito; estava me desenterrando a medida que íamos jogando
com os palhaços na quente caixa preta, descobrindo coisas tão miúdas de mim, e
é o que volto a frisar: não foi somente na oficina, mas no convívio, no Parque
do Sabiá, no carro, no Bar Othello, nos intervalos, restaurantes, na platéia,
enfim, era um tal de descobrir coisinhas que não acabava mais. Esse processo de
escamar é difícil, mas prazeroso em certa medida ou olhar.
O saber perder foi de difícil, mas acabou sendo a melhor sensação das
manhãs desses dias: ganhar perdendo de todos, em todos os jogos. “O palhaço é
um perdedor nato, ele é aquele que caiu e bateu o nariz no chão; e caiu tanto
que ficou com o nariz vermelho”, foi mais ou menos o que ouvi naqueles dias de
variadas maneiras: uma cara feia, um “é isso?”, uma porrada, uma vergonha; e o
que é uma grande verdade, não é tão bom ser vencedor; bom mesmo era ser
talentoso em coisas tão banais que nos sentíamos especiais em ser o ser
deformado.
E no final das contas o Cuchão, meu palhaço, saiu com um sorriso de
orelha a orelha deste final de semana, e olha que isso é raro pra um ser tão
mal humorado. Obrigado a todos os envolvidos e em especial a Eva Ribeiro, a
palhaça que queria se matar de amor.
Para registrar minhas sensações quis ser o perdedor mais uma vez e
resolvi desenhar.
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