segunda-feira, 9 de junho de 2014

Série: A Vinda da Palhaça (Parte 1)



Primeiro Registro: Felipe Casati (Cuchão)


EVA: QUANDO SE CONHECE UMA PESSOA BOA.

 
Se o palhaço é descobrir-se, desvelar-se, abrir-se e tudo mais, foi o que a Eva me proporcionou; ela chegou tão desarmada, simpática, estudada, tão aberta, mas tão aberta, que dava pra ver os azulejos coloridos de sua cozinha em Portugal. Era tão bom olhar em seus olhos transparentes; eles me confortavam de uma nuvem negra que pairava em minha vida e que agora se dissipa; aqueles mesmos olhos que ficaram maravilhados ao ver um tucano.
Três dias de exercícios, três dias de encontros, três dias tirando a terra de cima do meu peito; estava me desenterrando a medida que íamos jogando com os palhaços na quente caixa preta, descobrindo coisas tão miúdas de mim, e é o que volto a frisar: não foi somente na oficina, mas no convívio, no Parque do Sabiá, no carro, no Bar Othello, nos intervalos, restaurantes, na platéia, enfim, era um tal de descobrir coisinhas que não acabava mais. Esse processo de escamar é difícil, mas prazeroso em certa medida ou olhar.




O saber perder foi de difícil, mas acabou sendo a melhor sensação das manhãs desses dias: ganhar perdendo de todos, em todos os jogos. “O palhaço é um perdedor nato, ele é aquele que caiu e bateu o nariz no chão; e caiu tanto que ficou com o nariz vermelho”, foi mais ou menos o que ouvi naqueles dias de variadas maneiras: uma cara feia, um “é isso?”, uma porrada, uma vergonha; e o que é uma grande verdade, não é tão bom ser vencedor; bom mesmo era ser talentoso em coisas tão banais que nos sentíamos especiais em ser o ser deformado.
E no final das contas o Cuchão, meu palhaço, saiu com um sorriso de orelha a orelha deste final de semana, e olha que isso é raro pra um ser tão mal humorado. Obrigado a todos os envolvidos e em especial a Eva Ribeiro, a palhaça que queria se matar de amor.
Para registrar minhas sensações quis ser o perdedor mais uma vez e resolvi desenhar.

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